Música

Canto Cego e cantora baiana Caru lançam versão de To Voltando

Versão rock de um clássico do samba da década de 1970 exalta o retorno ao conforto do lar, a intimidade e os pequenos prazeres da vida cotidiana

Foto: Diego Silvério Fernandes/Divulgação

O tempo presente está suspenso e, diante da realidade atual do mundo, o conceito de futuro parece algo abstrato. É difícil seguir em frente na completa incerteza do porvir, e nesse contexto, o passado ressurge com força, em suas sombras e glórias. Olhar para trás na tentativa de encontrar respostas, ou simples pistas que revelem uma trilha possível adiante, pode ser uma alternativa ao aprisionamento que o agora nos impõe. Revisitar memórias, rever escolhas e refazer caminhos, buscando reorganizar o presente e reconstruir uma ideia de futuro.

Esse foi o sentimento que impulsionou a artista baiana Caru a propor uma parceria com a banda Canto Cego para a regravação da emblemática canção “To Voltando”, nas plataformas digitais por meio do selo Olga Music.

Caru conta sobre a ideia e o início da parceria com a Canto Cego:

“Durante a pandemia, eu, assim como muitos artistas, me vi completamente perdida, artisticamente perdida. Um ímpeto/ansiedade criativa me consumiam e ao passo que eu produzia incansavelmente, pensava que nada iria dar conta do vazio que a imensidão de dor que o mundo estava/está vivendo. Então parei. Olhei pra dentro e mergulhei em mim, na minha baianidade repleta de histórias. Sai das redes e senti. Foi depois de um tempo me escutando que me lembrei da canção ‘Tô Voltando’ e imediatamente tive a certeza que eu precisava voltar, mas não sozinha. Uma das regravações que eu mais amo é também um samba, ‘Zé do caroço’ da Banda Canto Cego. Peguei o telefone e mandei um áudio pra Roberta: ‘Tenho uma ideia, bora voltar pro estúdio? Ela conversou com a Banda, eles toparam e estamos voltando”.

A canção composta por Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro no ano de 1979, é originalmente um samba sobre a saudade. Seus versos celebram o retorno ao conforto do lar, o reencontro com a pessoa amada, a intimidade e os pequenos prazeres da vida cotidiana.

Mas naquele mesmo ano de 79, o Brasil inteiro viu o samba ganhar outras dimensões e entrar para história ao ser cantado na recepção dos exilados políticos que retornavam ao país após anos de exílio durante a ditadura. Tô Voltando se tornou um símbolo do Movimento pela Anistia e da luta democrática que ecoa até os dias de hoje.

“Em pleno 2021 vemos a nossa democracia sendo seriamente ameaçada por um governo que exalta os anos de ditadura e seus feitos cruéis e autoritários. Além disso, vivemos uma pandemia mundial que nos isolou do contato com os nossos, ressignificando a potência dos encontros e da troca de afetos. Com a proximidade de um novo processo eleitoral e a crescente resposta das ruas ao atual governo, surge a esperança de reafirmarmos as nossas raízes democráticas, ao mesmo tempo em que os avanços no combate à pandemia nos dão o vislumbre de um retorno ao convívio social e ao abraço dos amigos”, destacam eles

A versão traz a canção ao contexto atual, honrando sua força e história, fazendo-a emergir novamente como um hino de resistência e esperança a ser entoado a plenos pulmões.

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Canto Cego

Canto Cego começou seu processo criativo na Favela da Maré com a proposta de unir rock e poesia. O grupo coleciona os prêmios de primeiro lugar nos festivais Nova Música Brasileira (2012) e Planeta Rock (2014), com participação em festivais como Webfestvalda (2012/2013), Montreux Jazz Festival (2015), Ponto CE (2017), Rio2C (2018), Porão do Rock (2019), SIM São Paulo (2019) e Rock in Rio, como headline do Espaço Favela (2019).

A versão rockeira do samba “Zé do Caroço” foi trilha sonora de Malhação (2020) e a música autoral “A Fúria” é trilha da série Rotas do Ódio (Universal Channel).

O primeiro disco “Valente”, gravado na Toca do Bandido produzido por Felipe Rodarte e mixado por Pedro Garcia, tem músicas as músicas autorais “Eu não sei dizer” e “O dono da ordem” em parceria com Marcelo Yuka.

O grupo já se apresentou em diversas regiões do Brasil, em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, João Pessoa, Mossoró e Fortaleza. Atualmente, é representada pela Onstage Agência.

Caru

Caru é natural de Feira de Santana, porém, já habitou muitos lares. Salvador, Madrid, São Paulo e por último (por enquanto), Rio de Janeiro.

Além de nômade convicta, é cantora, compositora e também diretora artística, arquiteta, urbanista e cenógrafa.

Na música, já trabalhou com nomes diversos como Kassin, Paulo Mutti, Felipe Guedes, Julia Branco, Jadsa, Juliana Linhares, Alberto Continentino, Adam Esteves, Diogo Strausz e Tó Brandileone.

Como compositora tem parcerias e “aprochegos” sinceros com os tropicalistas Capinan e nesse momento, pro seu novo trabalho, com Tom Zé.

Curiosa e com menos de 30 anos, ainda está produzindo seu primeiro documentário, junto ao seu irmão Nelson Oliveira, sobre a vida e obra do Tio-avô Fernando Santos, o primeiro professor de percussão da UFBA.

Foi uma das residentes artísticas do Programa ASA (Arte Sônica Amplificada), realizado pelo Oi Futuro em parceria com as instituições britânicas British Council, Shesaid.so e Lighthouse.

Foi selecionada para fazer parte do Festival Faro (RJ) e Festival Aceleração Labsonica – Oi Futuro + Toca do Bandido. Atualmente presta consultoria criativa para artistas na área da música.

Fonte: Tedesco Mídia

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