Sob ameaça de censura, “Patriota comunista” reflete sobre o pesadelo dos brasileiros
Nova faixa de Gabriel o Pensador teve clipe gravado em um cemitério e fará parte do próximo álbum de inéditas do rapper
Morto, Gabriel o Pensador compõe com Moraes Moreira e Aldir Blanc, encontra o amigo Eduardo Galvão, brinca com o menino Henri e avista Paulo Gustavo acompanhado de milhares de vítimas da pandemia. O pesadelo que proporciona estes encontros descreve também cenas horríveis.
“Eram cenas horríveis transcendendo níveis jamais tolerados
já mais tolerados agora por seres humanos já mais insensíveis
já mais insensíveis do que os alemães que tratavam os judeus como gado“
Patriota comunista, lançamento em 21 de julho, tem produção do beatmaker Dree e do irmão de Gabriel, Thiago Mocotó. O trap traz ainda uma citação de Fita Amarela de Noel Rosa, nos vocais de Udi Fagundes. É, ao mesmo tempo, uma crítica veemente e um chamado.
“As pessoas se impressionam como músicas que compus a partir de 1992 continuam com mensagens atuais. FDP, Pega ladrão, Até quando, Nunca serão, Chega, entre outras, compostas em décadas direrentes, podem ser cantadas hoje e se continuarmos assim daqui a dez anos pode ser ainda pior. Opressão, censura, descaso com a vida e o meio ambiente, racismo, preconceito e discriminação em geral são males que sempre combati nas minhas composições. Infelizmente, são tão recorrentes que absurdos chegam a ser aceitos com algo normal. Muitos pediram para eu fazer “Matei o presidente 3”. Mas o meu desabafo vai além. É uma crítica que inclui a reflexão sobre atitudes e “posicionamentos” de (des)governantes e (des)governados. Onde a nossa compaixão virou egoísmo, onde nossa solidariedade virou ódio, onde a gente está se perdendo?”
Gabriel o Pensador
Inteiramente gravado em um cemitério, o videoclipe mostra políticos brindando sobre as lápides com leques de dinheiro nas mãos e tem direção de Fabio Masson e Victor Barão.
O CLIPE
GABRIEL O PENSADOR
Um dos pioneiros do hip hop brasileiro, Gabriel foi o primeiro rapper a difundir o gênero na língua portuguesa nos países lusófonos, ao quebrar a barreira do mainstream com seu disco de estreia em 1993. Um ano antes, sua fita demo independente de Tô feliz (matei o presidente) havia sido censurada pelo governo de Fernando Collor já sob processo de impeachment.
Mazelas políticas e sociais, alienação e comportamento, liberdade de expressão e de pensamento, crônicas do cotidiano e reflexões variadas compõem o vasto universo poético do Pensador, que também é escritor e alterna com naturalidade e coragem abordagens ácidas, irônicas e contundentes, como em Pátria que me pariu, Até Quando, Nunca serão, Tô feliz matei o presidente 2, Chega e Vamo aí, com outras mais descontraídas como em 2345meia78, Festa da música, Rap do feio e Solitário surfista, enquanto Pra onde vai?, Mandei avisar e Astronauta desafiam a lei da gravidade trazendo temas pesados com musicalidade leve e suave. Retrato de um playboy, Sem saúde, Bala perdida e Dança do desempregado são exemplos de uma linha em que alia crítica e humor. Hábil em experimentar misturas de ritmos e narrativas, foi pioneiro também ao criar flows inéditos para o rap cantado em português em cada um de seus oito álbuns e receber feats de artistas de outros gêneros, como Moreira da Silva em Amigo urso ou Lulu Santos em Cachimbo da paz.
Sempre inovando em suas produções, desde seu último álbum Sem crise, Gabriel tem lançado singles consistentes como Fé na luta, Sobrevivente e A cura tá no Coração e seu repertório impressiona pela atemporalidade da maioria de suas músicas. Mais de uma vez deu voz e traduziu anseios e sentimentos de gerações inteiras, sempre buscando um caminho de positividade, atitude e evolução através do ritmo e da poesia, como resume o título de seu quinto álbum: “Seja você mesmo mas não seja sempre o mesmo”.
O novo single Patriota comunista convoca os ouvintes a refletir mais profundamente sobre os males e doenças crônicas da nossa sociedade, sem máscaras (além das usadas contra a Covid-19), para buscar possivelmente algum fôlego extra na “fabricação” da mais difícil e importante vacina. “Escravos, é isso o que somos: escravos da própria falta de atitude”, já dizia em 1993 o jovem estudante que trocou a Comunicação Social pelos palcos na faixa E você?, numa mescla de freestyle rap com repente nordestino. Nos tempos do trap, o mesmo Gabriel que não é sempre o mesmo continua nos representando e nos lembrando como a música liberta.
CENSURA
Na tarde desta terça-feira, o músico postou um vídeo em suas redes sociais sobre um post feito por uma moradora e Uberlândia (MG), onde o clipe foi gravado, numa clara tentativa de intimidação e censura prévia, uma vez que o clipe nem havia sido lançado.
Assista!
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Foto abertura: Ale Frata/Live Images
Fonte: Assessoria de Imprensa Gabriel o Pensador
Atualizado dia 21/07/2021, às 11h05