Festival Rock Brasil 40 anos tem dia de rock’n’roll
As bandas IRA, Titãs e Camisa de Vênus nos levaram de volta aos anos 1980 com o melhor do rock nacional
Foto: Ale Frata/Live Images/Código 19
São Paulo, 10 de abril de 2022 – Memorial da América Latina – O terceiro dia do festival Rock Brasil 40 anos trouxe muita história do rock paulista oitentista. Se apresentaram neste dia IRA, Titãs, Camisa de Vênus, que apesar de baiana, tem a cara e a veia do rock paulista e Ultraje a Rigor, que trouxe a participação, mais do que especial do guitarrista Luiz Carlini (Tutti Frutti, Camisa de Vênus).
O ponto alto do dia, foi quando os Titãs anunciaram a participação especial de Branco Mello, membro fundador da banda, afastado dos palcos por problemas de saúde. Visivelmente emocionados, Sérgio Britto e Tony Bellotto receberam o amigo à frente do palco, que assumiu os baixos em algumas músicas, e apesar de um pouco abatido, Branco transpirava satisfação e felicidade em estar quase totalmente de volta. Os vocais foram divididos entre Britto, Bellotto e Beto Lee, que no próximo domingo apresentará o show CELEEBRATION, em homenagem à Rita Lee. A outra boa notícia da semana, foi a cura da cantora, que há um ano foi diagnosticada com câncer no pulmão.
O IRA fechou a noite com um show clássico, passando pelos hits de sua longa carreira, mas a impressão que fica, é que a amizade entre Nasi e Edgard nunca mais será a mesma. Para quem leu a Ira de Nasi, biografia do cantor, sabe o motivo.
O Camisa de Vênus fez um show de rock’n’roll de respeito, de ponta a ponta, mas o polêmico Marcelo Nova teceu alguns comentários antes de tocar a música Silvia, que a meu ver poderiam ser poupados. Ele disse que há muito tempo o Camisa não tocava mais essa música porque influencers ficavam de mimimi, dizendo ser uma letra machista, e apesar de não ser influencer, concordo com eles. O fato do público cantar e ovacionar a banda durante a execução, não necessariamente tira o cunho machista e tosco da letra que chama uma tal Sílvia de “piranha” e “puta”. Faz parte da arte, você rever conceitos, como Chico Buarque declarou no documentário “O canto livre de Nara Leão”, a respeito da música “Com açúcar, com afeto” que a cantora gravou e ele disse não mais tocá-la em respeito aos movimentos feministas que criticaram a letra.
Outro fato curioso, quando analisamos as letras do Ultraje a Rigor, em contrapartida ao comportamento de seu líder e vocalista, Roger. O cara tem tanto ódio da esquerda, que ficou cego ao passar pano para o atual presidente, fazendo vista grossa para a corrupção que continua no país, agora no formato de cheques, rachadinhas, e tudo que envolve o momento político do Brasil, mas em suas letras, ele continua afirmando: “A gente não sabemos escolher presidente”, “esse nosso povo anda tão chutado, quando não é um vereador roubando, é um deputado” e até mesmo criticando a censura, algo amplamente defendido pela direita e pelo governo que Roger declaradamente apoia: “Corri pro quarto, acendi a luz, olhei no espelho, o meu tava lá. Ainda bem que eu não tô na TV, senão ia ter que cortar”. Mas mesmo assim, teve gente que gostou do show deles, que particularmente, achei bem morno, exceto pela participação do guitarrista Luiz Carlini em uma música.
O mais legal deste evento, é perceber que as bandas, de uma certa forma ainda preservam alguns membros de suas formações clássicas, no caso dos Titãs, Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto, no IRA, Edgard Scandurra e Nasi, além do multi-instrumentista Johnny Boy e no Camisa de Vênus Marcelo Nova e Robério Santana.
Ainda restam dois dias de shows, e você pode conferir a programação e mais informações aqui.