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Gilberto Gil faz turnê de despedida com estrela do funk e protesto político

Cantor convidou MC Hariel na primeira noite de shows históricos em São Paulo

Foto: © Ale Frata / Live Images
Texto: Daniel Vaughan

São Paulo, 11/04/2025 – Allianz ParqueGilberto Gil emocionou os fãs paulistanos, na noite de sexta-feira (11), no estádio Allianz Parque. Foi o primeiro show das quatro datas da série de apresentações de Tempo Rei – Última Turnê, em São Paulo.

O ícone da MPB, que já passou por Salvador e Rio de Janeiro, ainda vai rodar o país em cidades, como Belo Horizonte, Belém, Brasília e outras capitais.

Fotos: © Ale Frata / Live Images

A turnê de despedida de Gil não é uma aposentadoria total dos palcos. O compositor de 82 anos quer se concentrar em fazer espetáculos menores, evitando assim tantos compromissos desgastantes ao vivo.  

Com a casa lotada, às 20h30, o artista entrou no local exibindo o ilustre magnetismo baiano. Ele já abriu os trabalhos com o hit Palco e, em seguida, cantou Banda Um e Tempo Rei. Simpático, Gil deu boa noite para “sampa”.  

A banda potente de apoio de Gil encheu o palco do Allianz Parque. Entre os músicos, estavam parte da família do cantor em diversos instrumentos e backing vocals, além de um quarteto de cordas, naipe de metais e estrelas como Mestrinho. O jovem e virtuoso sanfoneiro brilhou, principalmente, em momentos de forró, como Eu Só Quero um Xodó.

Ainda no início do show, um dos destaques históricos da noite, aconteceu quando o cantor invocou a fase tropicalista em Procissão e Domingo no Parque. O riquíssimo repertório do compositor, aliás, foi muito bem escolhido e destrinchado com classe ao longo do espetáculo.

Vítima da ditadura militar no Brasil, Gilberto Gil não deixou de relembrar o lado político que acompanhou sua trajetória. Um depoimento gravado por Chico Buarque apareceu nas telas para relembrar os tempos de censura no Brasil, o que levou a maioria do público do estádio a gritar “sem anistia”. Em seguida, o artista baiano cantou Cálice, uma música feita da parceria dele com Chico, no auge da ditadura no país. No telão, ainda foram exibidas fotos de pessoas que sofreram algum tipo de ameaça ou desapareceram naquele período sombrio, como o jornalista Vladimir Herzog e o deputado Rubens Paiva (sua história foi contada no filme ganhador do Oscar, Ainda Estou Aqui).

Já em momento mais descontraído, a nova geração foi convocada nas participações especiais da neta Flor, soltando a voz em Refazenda, e o funkeiro MC Hariel, rimando no single que gravou com Gil, A Dança.

Além do funk de Hariel, os inúmeros gêneros musicais que Gil usou como fonte durante a carreira estiveram presentes no setlist. O rock, por exemplo, ganhou espaço em Back in Bahia, A Gente Precisa Ver o Luar, Punk da Periferia e Extra II (Rock do Segurança).

Grande influência na vida do artista, o reggae teve destaque na sequência incrível de Extra, Vamos Fugir e A Novidade. E, claro, o espírito jamaicano de Bob Marley apareceu na conhecida versão de Não Chore Mais (No Woman, no Cry).

Em clima mais reflexivo, Gil pegou o violão e emocionou a todos nas baladas Se eu Quiser Falar com Deus e Drão.

Sempre cativante, sorridente e mostrando boa forma vocal, Gil pontuou algumas canções com histórias do período.

E, entrando na última jornada de hits, o baiano deixou o estádio em festa, com as animadas Expresso 2222, Andar com Fé, Emoriô, Aquele Abraço e Toda Menina Baiana.

Em pouco mais de duas horas de espetáculo, Gilberto Gil conseguiu fazer um belo resumo para uma carreira tão longa e recheada de sucessos. Memorável.  

Para os fãs paulistanos, a turnê ainda segue, novamente no Allianz Parque, nos dias 25 e 26 deste mês.

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