Jon Batiste e Samara Joy surpreendem o público, muito além dos Grammys, em festival
Durante três dias, São Paulo viveu uma mistura de estilos musicais e a união de veteranos e jovens artistas, no C6 Fest
Foto: Ale Frata/Live Images
São Paulo, 19 a 21/05/2023 – Auditório Ibirapuera – A edição paulistana do C6 Fest, mais novo festival que aconteceu na cidade, teve como palco o Parque Ibirapuera e lembrou aqueles tempos, dos anos 1990, onde o Free Jazz trazia clássicos da música para São Paulo e Rio, e não foi por menos, o evento foi produzido pela Dueto, que também produziu aquele festival e posteriormente o Tim Festival.
O evento começou no Rio, dia 18, num formato um pouco menor, com apenas oito apresentações, mas chegou a São Paulo, no dia seguinte, imponente, em um dos maiores parques da América Latina, com mais de 30 atrações, divididas em quatro espaços dedicados às apresentações. Na realidade, eram três, mas o Auditório Ibirapuera, já conhecido dos paulistanos amantes da música e das artes, é um espaço bem versátil, podendo ser utilizado com platéia interna e externa. Além disso, uma tenda montada próximo ao Museu Afro Brasil apresentou shows bem interessantes, das mais variadas vertentes da música. No Pacubra/Tokio, espaço dedicado ao after, aconteceram alguns eventos com DJs, pra quem tava no pique de entrar madrugada adentro.
No primeiro dia, se apresentaram na tenda, Xênia França, Dry Cleaning, Arlo Parks e Christine and the Quenns, enquanto que na plateia interna do auditório, aconteceu um Tributo ao Zuza Homem de Mello, musicólogo falecido em 2020, que levou ao palco a Orquestra Ouro Negro, Mônica Salmaso, Fabiana Cozza e Gabriel Grossi. A programação seguiu com Nubya Garcia, Julian Lage, e Tigran Hamasyan Trio.
No sábado, foi a estreia da platéia externa no festival, em noite voltada aos veteranos da música eletrônica, começando com Juan Atkins, seguido pelos alemães Kraftwerk e pra encerrar Underworld, banda que impulsionou a fama pela trilha do filme Trainspoiting. Na tenda, se apresentaram Blick Bassy, Russo Passapusso & Nomade Orquestra com BNegão e Kaê Guajajara num show incrível, Mdou Moctar, banda de rock da República do Níger e Jon Batiste, o que pode ser considerado um dos melhores shows da primeira edição do C6 Fest.
Para finalizar, o domingo foi o dia mais extenso de atrações, começando às 16h com 1973 abrindo na área externa, projeto criado exclusivamente para o festival, a fim de homenagear o ano de 1973, que foi muito importante para a música brasileira. Sob comando de Kiko Dinucci e Juçara Marçal, foram convidados Arnaldo Antunes, Giovani Cidreira, Jadsa, Linn da Quebrada e Tulipa Ruiz, que fecharam a apresentação homenageando a querida Rita Lee, falecida no último dia 08, cantando todos juntos o sucesso “Mamãe Natureza”. Na sequência, Tim Bernardes se apresentou cantando músicas de Gal Costa, incluindo “Realmente Lindo”, composição de Tim gravada por Gal. Encerrando os shows naquele espaço, Caetano Veloso fez, possivelmente, o show mais cheio do festival. Com sua simpatia e carisma, Caê fez São Paulo cantar clássicos como Sampa e Leãozinho, mas de certo modo o público estava meio frio, cantando com mais empolgação apenas alguns clássicos. Na tenda Heinekein, se apresentaram Black Country, New Road, Weyes Blood e The War on Drugs. Para finalizar o festival, na platéia interna do auditório, Samara Joy, que aos 23 anos, já foi ganhadora de dois prêmios Grammy, Melhor Álbum de Jazz Vocal em 2022 e Artista Revelação em 2023, neste último, derrotando a cantora Anitta, fez um dos shows mais concorridos do festival, estava sold out, e em meio ao repertório, homenageou Djavan, cantando “Flôr de Lis” e foi ovacionada pelo público, que a aplaudiu em pé, DOMi & JD BECK, uma jovem dupla, que se apresenta com um teclado (e uma privada) e inúmeros programas que complementam o som, como se tivesse uma banda acompanhando, e uma bateria muito bem tocada por JD Beck e para encerrar o festival, os lunáticos do The Comet is Coming, que devido ao atraso, encerraram a apresentação depois da 1h da manhã.
DESTAQUE
Como já citamos anteriormente, o grande destaque do festival ficou por conta de Jon Batiste, que em 2022 disputou 14 Grammys, e ganhou 5, entre eles, melhor álbum com We Are (2021), e fez uma apresentação eletrizante. O multi instrumentista de 36 anos, se revezava entre os vocais, guitarra e piano, e para encerrar, convidou a cantora pernambucana de ciranda, Lia de Itamaracá para participar do show, e enquanto ela encerrava a apresentação em cima do palco, o músico desceu tocando escaleta, e foi para o meio do público, que veio ao delírio, e assim, deixando uma impressão pra lá de boa, e a certeza que o número de fãs no país aumentou.
O FESTIVAL
O festival foi bem organizado, o local bem escolhido, banheiros limpos e sem filas, Heineken 0% (sem álcool) distribuída gratuitamente para o público, praça de alimentação bem estruturada, promotores orientando o público, mas alguns pontos podem ser melhorados para as próximas edições. Algumas apresentações atrasaram, e apesar dos ingressos serem direcionados para cada palco, há quem tenha adquirido o combo por míseros R$3.500,00, que dava acesso a todos os espaços, e caso tenha se programado para assistir dois shows de horários próximos, provavelmente teve que optar apenas por um deles. Outro ponto a ser observado é a questão da saída do parque. Ao final do festival, com ou sem atrasos, todos os portões estavam fechados, exceto um, obrigando o público a sair exclusivamente pelo Portão 2 (o mais próximo do Auditório Ibirapuera), mas como o estacionamento do parque não comporta nem a demanda usual de um fim de semana, muitas pessoas deixaram seus carros estacionados no entorno, e ao sair, foram obrigados a dar a volta inteira por fora para chegar ao seu destino, seja na Av. República do Líbano ou IV Centenário. Por falar em estacionamento, a saída com apenas 2 cancelas, estava com uma delas fechada, possivelmente por ter quebrado. Entendemos que a entrada deve ser restrita, após determinado horário, mas a saída não. A organização do festival poderia ter negociado essa facilidade com a administração privada do parque, afinal, agora por ali muita coisa é paga, e não custava nada colocar a segurança privada em mais alguns portões.