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Mesmo pela TV, Titãs prova que é a maior banda brasileira de todos os tempos

O reencontro dos sete integrantes, com participação especial do guitarrista Liminha, levou o público de volta aos anos 1990

Foto: Ale Frata/Live Images

A turnê Titãs Encontro acaba de passar por São Paulo, em três shows sold out, e como uma avalanche, levou uma média de 50 mil pessoas por dia ao Allianz Parque, tradicional palco de eventos na cidade, por onde já passaram grandes festivais e apresentações apoteóticas, como essa do Titãs.

Show Titãs 30 anos, no Espaço das Américas (Acervo: SP 06/10/2012). Foto: © Ale Frata/Live Images

O projeto, já vinha sendo comentado há tempos, e logo ganhou uma cara. Aconteceu uma coletiva de imprensa, em 2022, mas o evento foi fechado para um nicho seleto de amigos e convidados, e com isso pouco se falou com precisão sobre o evento, mas quando os ingressos começaram a ser vendidos, a euforia tomou conta de várias gerações e novos e velhos fãs.

A Live Images solicitou, mas infelizmente não foi credenciada para a cobertura do show em São Paulo, sem muitas explicações e com resposta padrão da assessoria de imprensa* responsável pelo evento, tivemos nosso pedido negado, mesmo supondo que durante os três dias, algo em torno de 45 a 60 fotógrafos, no mínimo, seriam credenciados, mas nós não tivemos essa sorte. Resolvemos fazer a resenha mesmo assim, com base no show que está disponível na Globoplay, por respeito ao Titãs, considerada uma das maiores bandas do Brasil, e como pôde ser visto pela TV, é mesmo.

Show Titãs lançamento Nheengatu, no Citibank Hall (Acervo: SP 13/09/2014). Foto: © Ale Frata/Live Images

A BANDA

A sinergia dos sete integrantes originais parece ter ficado numa cápsula do tempo, guardada, especialmente para esse momento, e somada à participação do guitarrista Liminha, que talvez tenha sido o nono Titãs, do Cabeça Dinossauro em diante, por sua contribuição nas produções e gravações, fez com que o público voltasse algumas décadas na história. Como não poderia ser diferente Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos, Branco Mello, Tony Bellotto, Sérgio Britto e Charles Gavin subiram ao palco do Allianz, numa abertura que lembrou a foto da capa do Help dos Beatles. Por diversos momentos a banda trouxe o amigo e guitarrista Marcelo Fromer, falecido em junho de 2001, vítima de atropelamento, para o palco, por meio de projeções. Fromer também foi representado por sua filha, Alice Fromer, que cantou algumas músicas em dueto com Arnaldo e participou da homenagem à Rita Lee, cantando Ovelha Negra. O que não se viu na apresentação que passou na TV, foram menções aos músicos que acompanham os Titãs, atualmente, inclusive participando de composições, como a ópera-rock Doze Flores Amarelas, e que hoje em dia são os pilares para que o Titãs continue na estrada, Beto Lee e Mário Fabre. Eles poderiam ter sido convidados para participar da festa, em uma ou duas músicas, assim como fizeram com a Alice, mas provavelmente as agendas dos músicos devem estar bem cheias, o que possivelmente inviabilizaria.

Pra quem acompanha os Titãs, desde meados da década de 1980, teve a certeza que a química entre esses caras foi tão forte, a ponto de perceber que o Titãs é essa essência, com Nando Reis arrebentando no baixo, Paulo Miklos rasgando nos vocais, Branco e Arnaldo com suas tradicionais coreografias.

Primeiro show do Titãs , com Beto Lee, no Teatro J Safra (Acervo: SP 14/10/2016). Foto: © Ale Frata/Live Images

Branco falou um pouquinho sobre a cirurgia que fez na garganta, e mesmo com a voz debilitada, fez questão de cantar algumas músicas e agradecer por aquele momento, de estar no palco, cantando com os velhos companheiros.

Poderíamos destacar o show inteiro, afinal foi um clássico atrás do outro, mas a abertura com Diversão deixa claro qual é o espírito dessa tour. Bichos Escrotos, Cabeça Dinossauro, Sonífera Ilha, Porrada, Desordem e a excelente repaginada em Nome aos Bois, música que lista nomes de pessoas (se é que podemos classificar assim) que marcaram a história pelos males causados à humanidade, incluindo o nome do fascista contemporâneo, que naquela época quase ninguém tinha ouvido falar. Nando Reis em alto e bom som, incluiu o nome de Bolsonaro na lista. Pelas redes, alguns desavisados reclamaram do protesto político, dizendo que aquilo era um show de rock e não palanque. Só por esse tipo de comentário, podemos perceber o quanto algumas pessoas são alienadas, e nunca se deram o trabalho (ou não conseguiram, mesmo) de interpretar as letras da banda, que em grande parte são sim de críticas aos políticos e à forma como a política é levada no país. Devem ser os mesmos, que naquele mesmo Allianz Parque vaiaram Roger Waters, em 2018, quando numa atitude semelhante, colocou o nome de Bolsonaro na mesma lista de Putin e Trump, entre outros chefes de estado desequilibrados. Ao fim da música, pela TV, consegue se escutar aquele velho coro que ouvimos muito em 2021 e 2022, pelo menos em shows bons e de artistas de caráter.

Show Titãs lançamento da ópera-rock Doze Flores Amarelas, no Teatro Opus (Acervo: SP 12/05/2018). Foto: © Ale Frata/Live Images

O VÁCUO

Como fotógrafo, fui editor do Marofa Music e também colaborador de algumas agências de fotojornalismo, e nos últimos 13 anos cobri diversos shows importantes, turnês inesquecíveis e momentos históricos. No caso dos Titãs, foram inúmeros shows, entre os mais emblemáticos, o primeiro, em outubro de 2012, quando comemoraram os 30 anos da banda, já em uma outra formação, com apenas quatro membro originais, antes da saída de Paulo Miklos, mas o que chama atenção naquela apresentação, é que os sete Titãs se juntaram para tocar algumas músicas e celebrar o marco, e eu estava lá. Estive no lançamento do 18º álbum de estúdio, Nheengatu (2014), na abertura do show dos Rolling Stones em 2016, no primeiro show do guitarrista Beto Lee, no Teatro J Safra, no mesmo ano, também participei do lançamento da opera-rock Doze Flores Amarelas, em 2018 no Teatro Opus quando foi gravado um DVD, entre outros shows importantes, mas como citei acima, infelizmente nesse Encontro não tive a mesma sorte, e fica um vácuo no meu trabalho documental de shows. Resolvi escrever sobre a emoção de ver esses caras juntos novamente, mesmo que seja apenas para essa turnê, e num relato feito pela TV (apesar de ser ridículo escrever uma resenha nessas condições) por conta de uma história que é muito maior do que qualquer coisa.

Retorno de Branco Mello aos palcos, após cirurgia, no Festival Rock Brasil 40 anos (Acervo: SP 10/04/2022). Foto: © Ale Frata/Live Images

TURNÊ CABEÇA DINOSSAURO

Conheci os Titãs na época do Cabeça Dinossauro, lá pelos idos de 1986, pois a Célia Macedo era tia de um grande amigo, o Rodrigo Lopes, e empresária dos Titãs, com quem eu até tentei trabalhar, mas ela me disse que eu era muito novo pr’aquilo tudo. Hoje eu entendo, mas teria sido uma experiência fenomenal. Isso possibilitou acompanhar a banda bem de perto, em diversos shows, e tive o prazer de conhecer os caras, numa época que eu tocava bateria e tinha no Charles um grande ídolo e inspiração. Nós trocávamos bastante ideia, inclusive, e me lembro que ele tinha um Chevette, azul se não em engano, com um adesivo do Motörhead no vidro traseiro, que eu achava o máximo. Quando cortei o cabelo dessa foto de 1986, me lembro como se fosse ontem, o comentário dele “cadê o visual Whitesnake?” .

Com Charles Gavin, na porta do camarim do Ginásio Ibirapuera, em 22/10/1986, com o Cabeça Dinossauro debaixo do braço. Foto: Acervo pessoal

Uma pena, que naquela época eu não fotografava profissionalmente, mas de vez em quando eu andava com minha câmera, e tenho alguns registros de fã, daqueles momentos. O meu LP Cabeça Dinossauro tem alguns autógrafos, não todos, mas um de grande importância, é o do Marcelo Fromer, por razões óbvias. Alguns momentos dessa época foram bem marcantes, me lembro que o Branco tinha um amigo, que se não me engano participa de um clipe deles, que estava em todos os camarins, com uma câmera (talvez VHS) registrando o backstage. Foi uma época bem legal e de grande importância, não só para o rock brasileiro, mas para a formação de roqueiros e bandas. Na minha opinião pessoal, o Cabeça Dinossauro é o melhor disco do rock nacional, e dificilmente será superado.

Respeitem os profissionais de imprensa!!! A gente conta história, querendo ou não.

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Texto: Ale Frata

* Trovoa Comunicação é a assessoria de imprensa responsável pelo evento.

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