Best of Blues reúne ícones da música para celebrar os 10 anos do festival
Com line-up de respeito, o evento atraiu grande público, mas ainda assim, tinham ingressos disponíveis para todos os dias
São Paulo, 02 a 04/06/2023 – Auditório Ibirapuera – O já tradicional Best of Blues and Rock, incialmente batizado como Best of Blues, que desde 2021 mudou de identidade, aconteceu na capital paulista no último fim de semana, trazendo nomes de grande peso da música internacional, como Steve Vai, Tom Morello e Buddy Guy, além das bandas Extreme, Goo Goo Dolls e The Nu Blu Band, de Carlise Guy, filha de Buddy, e tiveram também artistas nacionais, representados pelo IRA!, Dead Fish, Artur Menezes, Nanda Moura, Malvada e Day Limns.
Foram três dias de muita música e encontros históricos. Quem esteve lá, presenciou Tom Morello, Steve Vai e a galera do Extreme dividindo o palco na primeira noite, cantando Power to the People, clássico de John Lennon. Teve também participação de Tom Morello no show de Buddy Guy, no domingo, além do encontro de pai e filhos, com Carlise e Greg Guy tocando junto com o mestre blueseiro, em sua turnê de despedida, batizada de Damn Right Farewell Tour. Buddy Guy, aos 86 anos, mostrou que está em forma e carregou sua guitarra pendurada na correia, praticamente durante todo o show, fazendo as tradicionais brincadeiras de tocar com uma toalha ou uma baqueta, como fez em 2014, quando se apresentou no mesmo festival, no WTC Golden Hall. Na ocasião, com 9 anos menos (sim, com 77), Buddy desceu do palco e foi para o meio do público, solando sua guitarra para uns fãs privilegiados, que estavam nas primeiras filas.
Fotos: © Ale Frata/Live Images
Dos artistas nacionais, como já era esperado, o IRA! fez um show sensacional, tocando clássicos do álbum Psicoacústica, que comemora 35 anos do lançamento, misturado aos sucessos da carreira, e com direito a brincadeiras e improvisos com as letras, como Nasi cantou “Você me ligou naquela tarde vazia, fumando um no Ibira”, provavelmente fazendo uma alusão ao agradável perfume do parque. A grande, e grata surpresa, foi a banda Malvada, formada por quatro mulheres, com som pesado, letras em português, presença de palco de banda grande e musicistas exemplares, que de quebra, prestaram uma grande homenagem para nossa querida e saudosa Rita Lee, mãe de uma geração de roqueiros e roqueiras brasileiros, com a música “Esse tal de Rock’n Roll”. Foi uma pena, que durante o show da Malvada, fomos obrigados a fotografar lá do fundo, o que não nos permite representar nas fotos, o que assistimos ali, ao vivo.
Até 2022, o evento tinha um patrocínio master, que possibilitava realizar algumas edições de forma gratuita, por meio de leis de incentivo à cultura, num parque público e com grandes nomes da música, principalmente, guitarristas. Passaram pelo Ibirapuera, naquele formato, Joe Satriani, Richie Sambora & Orianthi, John 5, Zakk Wylde, Joe Perry e o próprio Tom Morello, entre muitos outros. Em algumas ocasiões, o evento acontecia em dois formatos, gratuito no parque e pago em alguma casa de shows, como o Tom Brasil, e outros, somente no formato pago como no Teatro Bradesco e WTC.
Fotos: © Ale Frata/Live Images
Em 2023, o evento no parque, que desde 2020 está sob concessão da iniciativa privada, passou a ser pago, e assim que anunciado, provocou uma certa ira do público, pelos valores exorbitantes que estavam sendo praticados, com ingressos a partir de R$600,00, que por conta da reação negativa do público, foram revistos em poucos dias após anunciado, e mesmo assim ainda continuaram salgados, sendo que o menor valor era R$450,00 por dia, para meia-entrada ou a possibilidade de adquirir um combo para os 3 dias do festival por R$1.200,00. Para quem tem disponibilidade de investir esse salário mínimo brasileiro, óbvio que valeu a pena, afinal, em três dias foi possível assistir duas apresentações de Buddy Guy, duas de Tom Morello, além de todos outros shows. Teve também o ingresso social, um pouco mais acessível e que arrecadou agasalhos para a Cruz Vermelha. As informações da assessoria, é que foram arrecadados durante os três dias, 1 tonelada de agasalhos. Uma boa ação e que deveria servir de inspiração para outros festivais. O festival estava cheio, mas infelizmente, não foi sold-out, como deveria, pelo line-up gigantesco que estava sendo apresentado. Todos os dias ainda tinham ingressos disponíveis. Segundo a assessoria, a produção não informou o público presente, por dia de festival.
Todos os dias tiveram coletivas de imprensa, mediadas pelo ex-Vj da MTV, Gastão Moreira, e nelas aconteceram algumas peculiaridades. Tom Morello e Nuno Bettencourt, ficavam “tricotando”, fazendo piadinhas o tempo inteiro e sorrindo. Tom chegou a brincar, dizendo que tentou roubar Gary Cherone do Extreme, banda que ele assumiu ser fã, mas que Nuno não deixou. Cherone, que estava ao lado de Nuno, imediatamente respondeu que se soubesse disso na época, teria aceitado, arrancando risos de todos os presentes. Em outro momento, no domingo, Buddy Guy chega acompanhado da filha Carlise Guy, momento histórico. O músico disse que nunca forçou a situação para que seus filhos seguissem sua carreira, inclusive, comentou que eles só foram aos seus shows, depois que já eram mais velhos. Buddy Guy, respondendo a pergunta sobre qual foi o maior músico que viu ao vivo, respondeu imediatamente, BB King. A banda IRA! chegou para a coletiva completa, e os quatro músicos ficaram ali sentados, mas quem falou com a imprensa, foram os membros fundadores Nasi e Edgard Scandurra, inclusive, o guitarrista elogiou a organização, mas fez questão de frisar que deveria ser um evento gratuito, num parque público, numa linda tarde ensolarada, para curtir com a família, como sempre foi. Nasi também deixou um recado, a respeito dos valores praticados pelas plataformas de streaming, dizendo que antes reclamavam das gravadoras, mas que estas investiam nos artistas, mas enfatizou que o modelo atual é bem mais democrático, o que não resta dúvidas.
Fotos: © Ale Frata/Live Images
O espaço foi bem montado, a praça de alimentação, estava bem diversificada, com alimentação para todos os gostos, mas os preços não eram lá muito convidativos. Tinha também uma barraca de merchandising oficial, com pouquíssima variedade. Algumas camisetas do Steve Vai e do Tom Morello, e outras oficiais do evento. Ficou faltando. Tinham também uns promotores vendendo copos do festival por R$25,00 cada, e vinham vazios.
ESTACIONAMENTO E O CAOS
O estacionamento do parque foi um problema a parte, após a concessão, passou a ser administrado pela empresa Indigo. Na sexta-feira, quem estava com o carro ali no bolsão, próximo à pista de caminhada do parque, demorou quase uma hora para sair, por conta da grande quantidade de veículos que vinham em todas as direções, para uma única saída, e muitos ainda paravam próximos à saída para pagar o tíquete no caixa eletrônico. Um verdadeiro caos. Deveriam estudar a possibilidade de ter mais de uma saída, aumentando a vazão de carros, já que a empresa que administra é experiênte no segmento, afinal, cuidam dos estacionamentos no Parque Villa-Lobos, Anhembi, Neoquímica Arena, entre outros locais de grande movimento, que sempre viram um tumulto em dias de eventos, seja na entrada, na saída ou nos dois.
No domingo, a entrada do estacionamento pelo Portão 3, estava fechada, com uma placa informando que não há vagas, e a previsão de abertura em 1 hora. Quando estávamos passando, uma funcionária da administradora do estacionamento anunciou que liberaria 10 carros, nesse momento começamos a filmar, e ela numa tentativa de intimidação, veio em nossa direção questionar qual era o motivo da filmagem, mas quando foi informada que éramos da imprensa, cobriu o rosto e voltou para o seu posto. Não vamos divulgar o vídeo, nesse momento, até para preservar a garota, que estava trabalhando num domingo ensolarado, assim como nós, enquanto muitos se divertiam. E o trabalho dela nem era dos mais legais. Um carro da CET dava cobertura ao fechamento da entrada, o que estava ocasionando o maior trânsito na Av. Pedro Álvares Cabral, no entorno do Parque. Ao ser perguntada sobre o fechamento, a agente do CET justificou: “agora o parque é privado, eles que mandam”.
Fotos: André Velozo/BB&R/Divulgação
IMPRENSA
Diferentemente das outras edições, esse ano aconteceu um fato muito chato para os fotógrafos e cinegrafistas de imprensa, credenciados para a cobertura do evento, principalmente os que já estavam acostumados a trabalhar nesse festival em anos anteriores, como nosso caso.
Sem muitas explicações, o espaço destinado aos profissionais de imagens ficava a quase 60 metros do palco, ao lado da famosa house mix, onde era permitido trabalhar por 2 músicas, apenas. Esse posicionamento acabou dificultando o registro de todos os shows, pela distância absurda e inexplicável.
Normalmente em festivais, pode ocorrer que uma banda ou outra tenha restrições com a captação de imagens, mas todas juntas, foi a primeira vez. O trabalho adequado deve ser feito do photopit, aquele espaço que estamos cansados de comentar por aqui, que fica no pé do palco, também conhecido como fosso, onde normalmente são permitidas imagens das três primeiras músicas. Após algumas reclamações, insistências e pequenas reuniões com a assessoria, nos foi autorizado fazer imagens do meio do público, posicionamento mais próximo, porém inadequado também, afinal, quem paga ingresso pra ver um show, quer dançar, pular, cantar, tocar air guitar em paz, e acaba se incomodando com alguém fotografando do seu lado ou levantando a câmera na sua frente, como relataram alguns fotógrafos, e por outro lado, quem está trabalhando, não está a fim de ficar tomando tranco de pessoas que estão se divertindo, ou mesmo ouvindo reclamações. Trabalhar ao lado de uma roda punk, no meio da pista, além de ser incoveniente, pode ser perigoso, inclusive correndo risco de acidentes com os equipamentos, que não andam nada baratos. Outro empecilho, é infinidade de celulares que se vê nessa situação, que acabam entrando nas fotos, atrapalhando o trabalho.
No segundo dia, a assessoria de imprensa voltou atrás, dizendo que alguns fotógrafos não respeitaram o tempo de captação de imagens do meio do público (é, começou a ficar engraçado, mas foi trágico) e retomaram a ordem das fotos lá do fundo, que obviamente, não foi 100% respeitada. Com o passar do festival, percebemos que algumas pessoas credenciadas acabaram entrando no pit, inclusive com celulares, para fazer videozinhos para o Tik Tok, enquanto a maioria dos fotógrafos, com equipamento profissional, dividiam o espaço com o público numa tentativa de ter uma boa imagem da turnê de despedida de um mostro como Buddy Guy. Outro fato curioso, foi que ao questionar o porque dessa ordem, disseram que veio do “manager“. A gente só não sabia que o manager do Goo Goo Dolls era o mesmo do IRA! e de outros artistas nacionais, e nem mesmo do próprio Tom Morello ou do Steve Vai (continuou engraçado e mais trágico ainda).
Um dos argumentos passado pela assessoria é que se liberasse o pit para fotografar o IRA! ou outro artista nacional, que era mais cedo, o fotógrafo que chegasse mais tarde (aquele, que só vai pra fotografar o headliner do festival), teria dificuldades de entender porque mais cedo podia, e mais tarde, não (agora a tragédia tomou conta do evento).
Brincadeiras a parte, essa ordem, sabe-se lá de quem partiu, acaba prejudicando o trabalho da imprensa, a imagem dos artistas e o bem estar do público. O que foi informado, é que isso não partiu da produção do evento, e sim do “manager”, aquele que é do IRA!, da Malvada, do Tom Morello e do Buddy Guy. O cara que trabalha mais que todo mundo, no evento.
A estrutura para a imprensa também estava precária. Havia sido previamente informado que os profissionais de imagens teriam armários à disposição na sala de imprensa para guardar o excedente de seus equipamentos, assim como WI-FI, afinal, hoje em dia não se faz quase nada offline, apenas fotografar, mas não foi isso que aconteceu. Na área interna do Auditório Ibirapuera não existe sinal de 4G, diferentemente da área interna dos presídios. Em determinado momento nem água tinha à disposição de quem estava na sala de imprensa, e quando foi solicitado, demorou quase 1 hora pra chegar. A sala destinada à imprensa ficava ao lado do catering do evento, onde todos prestadores de serviços, músicos, equipes técnicas e outros trabalhadores almoçavam, jantavam, tomavam lanches, sucos, sobremesas, e nada disso foi oferecido para quem estava ali, na cobertura do evento, debaixo de sol, com seu equipamento nas costas. Na recepção, ao lado do balcão de credenciamento, tinham alguns sanduíches e uma máquina de café, que era recolhida bem antes do final, e cá pra nós, isso está bem abaixo do mínimo para um festival de grande porte, como o Best of Blues and Rock. Um evento desse tamanho, com artistas pra lá de renomados, ingressos a preços altíssimos, num lindo prédio do Niemeyer, não disponibilizar uma estrutura mínima para quem vai trabalhar por mais de 8 horas, é lamentável. Acabou fazendo sentido, que grandes veículos nem deram as caras por lá.
Esperamos, de verdade, que esse grande evento se repita por mais 10, 20, 30 anos, que seja, mas que se lembrem que pra contar a história, precisamos de imagens, e boas imagens, feitas por profissionais e não videozinhos de Tik Tok ou Stories do Instagram que se perdem com o tempo e não tem o menor valor histórico. Um festival sem fotografia é um festival sem história.
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